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Voluntária da Missão Amazônia apresenta pesquisa científica realizada na Ilha de Marajó

Pesquisa realizada durante Missão Amazônia encontra índices de normalidade para problemas de saúde mental em crianças e adolescentes

A Igreja Cristã Maranata (ICM), por meio das oito edições da Missão Amazônia, realizada nos últimos quatro anos, nas comunidades ribeirinhas da Ilha do Marajó, no estado do Pará, tem atuado no campo social com ações médicas e odontológicas em prol da saúde física e espiritual da população de Bagre, Melgaço, Breves, São Sebastião da Boa Vista, Vila Jerusalém, Vila Capinal e Vila Raquel. Desde a primeira edição, a equipe de voluntários tem sido formada por evangelistas, profissionais da saúde e pesquisadores, que estudam e analisam as condições de vida e saúde dos moradores. A graduanda de fonoaudiologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP) e voluntária da Missão Amazônia, Thais Rezende, sob a orientação da Profa. Dra. Rosane Lowenthal, realizou um trabalho científico durante as duas edições do projeto, realizadas em 2019, com o objetivo de identificar problemas emocionais e comportamentais das crianças e adolescentes que vivem nessa região. O projeto foi aprovado pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Comissão Cientifica da FCMSCSP. Em seguida, foi realizado o trabalho que buscou a taxa de prevalência de problemas de saúde mental na infância e adolescência nas comunidades ribeirinhas da Ilha do Marajó, no estado do Pará. O trabalho foi submetido e aceito em congresso de psiquiatria no Brasil, “Congress on Brain, Behavior and Emotions 2020”, apresentado em forma de pôster, no dia 28 de novembro. No dia 07 de dezembro, o relatório dessa pesquisa científica foi apresentado ao Fórum Científico da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

Sobre o trabalho em campo

Depois da aprovação da pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e a autorização do presidente da Missão Amazônia, João Cidade, a graduanda e voluntária, Thais Rezende realizou a coleta dos dados no período de 26 de maio a 03 de junho e 27 de outubro a 04 de novembro de 2019. O instrumento utilizado foi um questionário que identificou a prevalência de problemas emocionais e comportamentais de crianças de 4 a 17 anos nos municípios de Melgaço, Bagre, Vila Jerusalém, Vila Boa Vista, São Sebastião da Boa Vista e Vila Raquel.

Foram realizados 107 questionários às mães de crianças e adolescentes de 04 a 17 anos, após a triagem dos atendimentos médicos pediátricos. “Durante o período de espera das mães que tinham passado pela triagem e estavam aguardando a consulta, eu fazia a entrevista”, contou Thais Rezende. Como algumas das mães possuíam dificuldades de leitura e compreensão, a pesquisadora lia, primeiramente, o consentimento livre e esclarecido; em segundo, explicava que os dados não seriam divulgados, mas somente o resultado; por fim, depois que as mães assinavam o consentimento livre e esclarecido, as perguntas do questionário eram lidas e assinaladas às respostas.

“A curiosidade sobre a região que me motivou”

Thais Rezende já tinha participado como voluntária de outras três edições da Missão Amazônia e, como tinha iniciado a faculdade de fonoaudiologia, possuía curiosidade sobre o desenvolvimento das crianças que vivem nas cidades ribeirinhas. Com muitas ideias de estudo para a região da Amazônia, a pesquisadora conseguiu o apoio de uma professora que tinha projetos semelhantes em vários locais do Brasil, a Professora Doutora Rosane Lowenthal, que aceitou orientar essa pesquisa científica. “E foi a curiosidade sobre a região que me motivou e também o papel que fazemos, além de assistência social, médica, evangelística, a inclusão social junto com a Igreja Cristã Maranata”, disse Thais Rezende.

Resultado supera expectativas da pesquisadora

Depois de analisar a amostra de 107 questionários aplicados às mães de crianças, com a média de nove anos, os resultados relevantes foram:

  • 91,3% frequentam a escola todos os dias;
  • 30% apresentam dificuldade para aprender;
  • 14,7% repetiu alguma série escolar;
  • 97,1% das mães nunca procurou um profissional de saúde mental para seus filhos;
  • A média total para problemas de saúde mental foi de 11,06% (escore dentro da normalidade, segundo os protocolos do questionário).

O último dado avaliou os problemas da saúde mental, objetivo do estudo da pesquisadora, que surpreendeu por ser uma média inferior e estatisticamente significante, segundo o protocolo do estudo. Os dados encontrados sugere que a população estudada não apresentou sinais de problemas de saúde mental.

A única diferença significante encontrada foi no problema de conduta entre as zonas urbana (61,1%) e rural (38,9%). Problema de conduta é quando um padrão de comportamento se torna repetitivo e persistente, violando os direitos básicos de outras pessoas, ou normas, ou regras sociais. Como por exemplo, agressão a pessoas e animais, provocações, ameaças, brigas físicas, atos de crueldade, destruição de propriedade, roubo, furtos, mentiras com frequência para obter coisas, violação das regras dos pais, fugir de casa, entre outros.

“Resumindo, não encontramos sinais de problemas de saúde mental nesta população, nem diferença entre sexos, nem entre idades, nem entre regiões. Somente problemas de conduta que se mostrou mais prevalente na região urbana do que rural e estatisticamente significante”, concluiu Thais Rezende.

Resultado comparado com a cidade de São Paulo

Houve um estudo semelhante no município de São Paulo, em 2011, que analisou três populações que residiam em locais diferentes. Na favela, que não possui saneamento básico, foram encontradas altas taxas de sintomas de doenças mentais, comparadas com as áreas urbana e rural. Nas comunidades ribeirinhas também não há saneamento básico, no entanto, o resultado se mostrou favorável, sem probabilidade de doenças mentais.

Outro estudo realizado no município de São Paulo, em 2019, mostrou três fatores associados às altas taxas de distúrbio psiquiátricos da criança: pobreza, doença psiquiátrica dos pais e violência familiar. Na Ilha do Marajó não há informação cientifica de doença psiquiátrica dos pais, mas a pobreza é constatada conforme dados do IBGE, sendo Melgaço o município de pior IDH do país: 43,92% da população vive em extrema pobreza; e 73,43% é considerada pobre. Em Bagre, 59,68% da população é considerada pobre; e 28,34%, vive em extrema pobreza. Em São Sebastião da Boa Vista, 56,65% da população é considerada pobre; e 31,46% em extrema pobreza.

Hábitos do sono é o próximo trabalho na Ilha do Marajó

Durante a coleta dos dados sobre saúde mental, outro questionário sobre hábitos do sono também foi realizado conjuntamente. Com isso, outro projeto pela pesquisadora já está sendo realizado para a comparação do problema da saúde mental com os hábitos do sono. Essa pesquisa está na fase de analise de dados.

Concluindo, a pesquisadora acredita que os fatores protetivos relatados na literatura, isto é, a influência da escola, do professor e da igreja, podem ter colaborado nos índices favoráveis de saúde mental das crianças.

“Quando temos o Senhor na nossa vida, tudo muda. Com Cristo no barco, tudo vai muito bem. Ele acalma a tempestade. Problemas de saúde mental podem acontecer com qualquer pessoa e atinge também crianças e adolescentes. Mas, através da Palavra de Deus, a igreja mostra que não estamos sozinhos e isso faz enorme diferença em qualquer região.” Concluiu Thais Rezende.

Desta forma, o trabalho que a Igreja Cristã Maranata (ICM) tem realizado através da Missão Amazônia, com o apoio da Missão Internacional Cristã Maranata (MICM), tem contribuído à saúde mental, levando através do Evangelho das Sagradas Escrituras, o consolo, a paz à alma e o refrigério aos menos favorecidos, que vivem em condição de extrema pobreza, mas que possuem uma “Palavra de Esperança” gravada em suas mentes e em seus corações para vencerem os obstáculos sociais em suas comunidades.

Por Andréia Talma

Um comentário

  1. E de muita importância esse trabalho da igreja, junto a comunidade ribeirinhos pra saber e conhecer a necessidade , conhecer a real situação do povo e prover recursos para comunidade, em todo seguimento social. bem como levar uma palavra de esperança.

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